A obra de implantação de rede começou na Rua Maria Isabel, no bairro Cosme e Damião, em JaperiDivulgação / Águas do Rio

A empresa Águas do Rio deu início, nesta terça-feira (26/03), às obras de implantação dos sistemas de esgotamento sanitário inexistentes nas cidades de Japeri e Queimados. Com investimento de R$ 640 milhões, serão instalados aproximadamente 700 km de redes e mais de 60 estações elevatórias, responsáveis por bombear o esgoto até a Estação de Tratamento Queimados, que será construída no bairro Jardim Queimados, num terreno perto de Engenheiro Pedreira, em Japeri. Além do esgoto doméstico gerado por 270 mil moradores, a estação, com capacidade para tratar 600 litros por segundo, vai atender também uma parte de Nova Iguaçu.

A obra de implantação de rede começou na Rua Maria Isabel, no bairro Cosme e Damião, em Japeri, onde existem 234 residências. A moradora Larissa Pimenta, que mora no bairro São Jorge, a 15 km dali, sabe bem os problemas causados pela falta do sistema de esgotamento sanitário. “Todo o esgoto da vizinhança fica bem atrás da minha casa. A gente já se acostumou com o mau cheiro, mas, se chega visita, ficamos com vergonha. Tem muitos ratos e mosquitos. Sempre que chove forte, essa água com esgoto entra na minha casa. Meu filho já pegou bicho-de-pé brincando no quintal, minha mãe é alérgica, foi picada por um mosquito e precisou ficar internada. O tratamento do meu filho ficou caro, e a gente gastou dinheiro sem ter. Sabendo que finalmente as obras estão chegando, nosso coração se enche de esperança”, contou a dona de casa.

De acordo com o diretor da Águas do Rio, Felipe Esteves, a primeira fase da construção dos sistemas de esgoto tem previsão para ser concluída ainda este ano. A primeira etapa termina no final deste ano, com a entrada em funcionamento da ETE, que terá capacidade para tratar o esgoto coletado pelas redes que já estiverem prontas. À medida em que formos assentando novas tubulações, a estação vai sendo ampliada”, conta Esteves, que acrescenta a importância de as pessoas fazerem as ligações de esgoto quando os sistemas estiverem disponíveis.

“A população não pode abrir mão de utilizar a rede pública de esgoto, porque isso implica na saúde. Existem mais de 100 doenças que surgem pelo contato com esgoto sem tratamento, e todo dia há pessoas sendo hospitalizadas por doenças de veiculação hídrica, como a diarreia, leptospirose, hepatite, que muita gente nem associa ao contato com o esgoto”, afirmou Esteves, que atua na Baixada Fluminense.

No Mês em que se comemora o Dia Mundial da Água, o Instituto Trata Brasil, referência em indicadores de saneamento, divulgou que cerca de 90 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta de esgoto, e que o tratamento é o serviço que está mais atrasado quando olhamos para as metas de universalização até 2033.


Rio Guandu deixará de receber esgoto in natura na região

Além de saúde e dignidade, o esgotamento sanitário vai impactar positivamente o meio ambiente, especialmente o Rio Guandu, onde é captada a água que abastece 80% da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O manancial tem sofrido por décadas com a poluição e o descarte irregular de lixo e esgoto. Com a conclusão das obras, cerca de 51 milhões de litros de esgoto deixarão de ser lançados nesse ecossistema, que terá uma água com melhor qualidade para ser tratada e distribuída para nove milhões de pessoas.

A notícia foi recebida com alegria pela família de Priscila Amorim, que ao longo de três gerações sobreviveu da pesca e acompanhou a triste degradação do Guandu.
“O Guandu era sinônimo de vida, nossa fonte de renda. Meu avô e meu pai foram pescadores, e há 20 anos, quando me casei, meu marido também se apaixonou por essa profissão. Durante décadas foi deste rio que tiramos o nosso sustento. Mas, com a poluição, os peixes se tornaram cada vez mais raros, inviabilizando o trabalho de dezenas de famílias. Meu marido começou a trabalhar como servente de obras, e nossa renda foi reduzida em mais de 80%. Meu sonho é ver o Guandu despoluído para que eu possa viver da pesca novamente. E não só isso, mas ver novamente a vida no meu pantanal iguaçuano”.