Ministro do STF, Alexandre de MoraesEvaristo Sá / AFP

Brasília - Publicação engana ao sugerir que o ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes, disse planejar um golpe para "corroer a democracia por dentro". Na verdade, o magistrado exemplificou a universitários, em uma palestra, como as redes sociais têm sido ferramenta para disseminar desinformação e ataques à democracia, bem como um meio para grupos políticos se fortalecerem.
Conteúdo investigado: Post no X usa vídeo com fala do ministro Alexandre de Moraes sobre "corroer a democracia por dentro". O responsável pela publicação compara a declaração do magistrado às de Adolf Hitler e completa a legenda dizendo que o discurso é o que "comunistas das trevas pensam e estão fazendo".

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Uma publicação que circula no X engana ao sugerir que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes planeja "corroer a democracia por dentro". O post utiliza um recorte de vídeo de 30 segundos de uma declaração em que o magistrado exemplifica discursos extremistas para afirmar que essa é a forma como ele e "comunistas das trevas" estão agindo "por trás das cortinas".

Apesar do trecho ter viralizado recentemente, a fala do também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ocorreu em 26 de fevereiro deste ano, durante a palestra "Democracia e o STF", na Semana de Recepção às Calouras e aos Calouros da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), onde ele é professor associado. Na ocasião, o magistrado falou sobre como é possível corroer uma democracia, mas a declaração foi tirada do contexto, uma vez que ele explicava aos universitários como grupos políticos utilizam as mídias digitais para incutir a ideia de que o sistema democrático está enfraquecido.

"Não demorou muito para uma extrema-direita, uns extremistas perceberem que as redes sociais eram um caminho para atingir o poder sem precisar passar pelo voto ou atingir o poder pelo voto e nunca mais largar esse poder. Passou a haver um desvirtuamento e uma instrumentalização errônea das redes sociais com método", disse Moraes.
"Se começa com uma linha de mensagens correta, explicando as coisas, cativando aquele eleitor e depois as famosas fake news. É uma verdadeira lavagem cerebral que é realizada, isso com método de ataque à democracia", continuou o ministro, que em seguida apontou o modo como esses grupos agem.

"Como corroer a democracia por dentro? Sem um discurso tradicional de golpe, de acabar com a democracia. Vamos dizer que a democracia está falida, está desvirtuada, não representa mais os anseios populares e nós, salvadores da pátria, vamos precisar substituir". A íntegra do discurso de Moraes pode ser assistida no canal da FDUSP no YouTube.

Na palestra, o ministro disse ainda que a disseminação de desinformação foi associada à descredibilização da imprensa profissional. "Como esses extremistas utilizaram as redes sociais para corroer a imprensa? A partir da tentativa de desacreditar a mídia tradicional (…) Se começou uma produção financiada, com vídeos bem feitos, toda uma tecnologia, para confundir o eleitorado, a partir daquilo que você não sabe mais o que é notícia verdadeira e o que é notícia falsa", apontou. "A mídia tradicional e as redes sociais com notícias fraudulentas, com fake news, atingiram o mesmo patamar".

Na época em que a declaração foi feita, a GloboNews repercutiu a mesma fala do ministro em suas redes sociais, dentro do contexto real, de defesa da democracia e regulamentação das redes sociais. Em nota ao Comprova, o Supremo confirmou que a declaração de Moraes foi retirada de contexto.

O autor da publicação enganosa foi procurado, mas não respondeu.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 16 de abril, o post tinha 6,7 mil visualizações. Dezenas de outros posts foram feitos com a mesma mídia e legenda, mas com menos viralização.

Fontes que consultamos: Inicialmente, foi realizada uma busca no Google pela frase do ministro utilizada pela publicação verificada, que levou a checagens sobre a declaração, bem como o vídeo de onde as falas foram retiradas. Também foi analisado o discurso de Moraes na íntegra, para entender o contexto e desmentir as alegações do post. Por fim, o STF e o responsável pela publicação foram procurados.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A postagem também foi checada pelo Fato ou Fake, do G1, e Boatos.org. É comum que membros do STF sejam alvos de desinformação. Recentemente, o Comprova desmentiu que Moraes tenha sido investigado pelo FBI por envolvimento com narcotráfico. Também não é verdade que ele e os ministros Edson Fachin e Luís Roberto Barroso receberam propina para favorecer Lula nas eleições de 2022. É mentira ainda que o STF bloqueou as redes sociais ou exigiu a demissão do jornalista Augusto Nunes.