Dario Reisinger Ferreira, presidente do União Brasil na cidade de Suzano (SP)Reprodução / Facebook

Um dirigente do União Brasil na cidade de Suzano está foragido desde terça-feira, 16, após ser alvo de mandado de prisão em uma operação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Dario Reisinger Ferreira é suspeito de integrar um grupo supostamente ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que estaria promovendo fraudes em licitações em diversas cidades do Estado.
O Estadão procurou o diretório estadual do partido nesta quinta-feira, 17, para entender o que seria feito a respeito do assunto, mas não houve retorno. Ferreira, que é dono de um escritório de advocacia em Suzano e assumiu o cargo de presidente municipal do partido antes das eleições de 2024, não foi localizado.
O advogado entrou na mira da operação ao assinar pedidos de impugnação de editais e licitações no Tribunal de Contas do Estado e por atuar em nome de empresas suspeitas de terem sido criadas em nome de "laranjas" e com a única finalidade de perder licitações, segundo o Ministério Público, dando ares de legalidade ao conluio.
A investigação como um todo partiu de uma denúncia anônima em Guarulhos, na região metropolitana da capital, relatando que disputas para prestação de serviços terceirizados de limpeza estariam sendo direcionadas a uma empresa específica em várias cidades da região. Os promotores, então, colheram indícios de que servidores públicos estariam recebendo propina para favorecer empresas em contratos com prefeituras e câmaras municipais.
A organização criminosa ainda teria envolvimento direto do PCC com alguns integrantes e "laranjas" atuando como titulares de empresas sob suspeita. A facção criminosa ainda seria responsável por deliberar sobre a "sorte dos contratos, quando havia divergências entre as empresas". Os contratos com indícios de fraude somam, segundo os promotores, cerca de R$ 200 milhões em, pelo menos, 12 municípios.
Segundo o relatório, Ferreira estaria "extrapolando a atuação jurídica para aderir às condutas ilícitas do grupo" e atuando "não só em processos criminais, representando os interesses pessoais de integrantes, mas também com representações em nome próprio, visando a impugnar editais licitatórios para favorecer as empresas do grupo criminoso, tudo a garantir a competição simulada e vantagem nos contratos públicos".
O processo criminal em questão é contra Márcio Zeca, condenado por tráfico de drogas após ser flagrado transportando 200 porções de cocaína em fundo falso em um veículo Mercedes-Benz. Ele é defendido nos autos por Ferreira. Zeca também foi considerado como "integrante do PCC" em outra condenação na Justiça, mas ainda cabe recurso.
Ao autorizar o pedido de busca e apreensão nos endereços residenciais e comerciais do advogado, a juíza Priscila Devechi Ferraz Maia, da 5ª Vara Criminal de Guarulhos, afirmou que "as evidências até então colhidas trazem fortes indícios do envolvimento [...] nas atividades da associação ora investigada, em razão das mensagens obtidas com a quebra dos dados telemáticos deferida, tendo sido apontado na representação, inclusive, impugnação a edital de certame realizada em nome próprio."
Candidato a vice
Há cerca de um mês, Ferreira concedeu uma entrevista ao Diário de Suzano e manifestou o desejo de concorrer como vice-prefeito na chapa de Pedro Ishi (PL), nome indicado pelo atual prefeito Rodrigo Ashiuchi, do mesmo partido, para o pleito de outubro. "Eu vou estar na campanha. Não sei se vai ser como vice, segurando bandeira, distribuindo santinho ou batendo de porta em porta."
O advogado alega no vídeo que o convite para comandar o União Brasil na cidade partiu de Renato Felix, vice-presidente conhecido como Renatinho e que é ligado à deputada estadual Solange Freitas (União Brasil), jornalista cujo reduto eleitoral é São Vicente.
"O União Brasil herda um pouco essa história (do DEM), mas é um partido novo. Tem uma nova cara, um novo jeito de fazer política, e eu tenho a honra de ser a cara do União Brasil em Suzano", declarou Ferreira. De acordo com o relato, ele estava à frente do diretório municipal desde julho de 2023 e, sem uma sede própria, cedia espaço ao partido em seu escritório.
Três vereadores presos
A Operação Munditia resultou ainda na prisão de três vereadores paulistas: Flávio Batista de Souza (Podemos), conhecido como Inha, de Ferraz de Vasconcelos; Luiz Carlos Alves Dias (MDB), o Luizão Arquiteto, de Santa Isabel; e Ricardo de Oliveira (PSD), o Ricardo Queixão, de Cubatão. Apenas o MDB declarou à imprensa que expulsará o parlamentar, enquanto Podemos e PSD dizem acompanhar as investigações.
Os promotores afirmam no relatório que Inha tratou "diretamente com o dono das empresas contratadas pela Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos" sobre repartição de valores e atuou como "recebedor dos repasses escusos do grupo criminoso". Luizão, por sua vez, manteve "intenso contato" com um dos suspeitos e "registra preocupação com outras empresas que surgem na licitação, em razão do pagamento de propinas entregues a ele". Queixão também é suspeito de receber propinas decorrentes dos contratos firmados, "conforme dados telemáticos".
O Estadão tenta contato com a defesa dos vereadores. O espaço está aberto para manifestações.