99 e Uber acirram disputa pelo transporte em duas rodasfoto de divulgação 99

A utilização desse veículo vem ganhando relevância nos últimos anos como forma de suprir a dificuldade de locomoção e de serviços públicos em áreas mais carentes, como os sinuosos becos e subidas dos morros cariocas, assim como para driblar as longas distâncias e engarrafamentos. Na prática, a eficácia desse modal para agilizar os deslocamentos pode ser testada no Rio de Janeiro.
Ironicamente, essa verificação não tem como ser feita em São Paulo que registra forte incidência de lentidão nos deslocamentos por abrigar a maior concentração de veículos do país. Há mais de um ano que as duas gigantes transportadoras por aplicativos travam uma quebra de braço com as autoridades municipais. Até agora, o prefeito Ricardo Nunes tem se mantido irredutível  com relação ao atual modelo de negócio assim como as garantias de integridade física dos envolvidos no transporte.
Motoboys
O furacão formado com as entrantes Uber e a 99 no mercado dos tradicionais taxistas, agora vai atingindo também as atividades comunitárias do Moto Taxi e o serviço autônomo dos Motoboys, segmentos muito vulneráveis já que, na maioria dos casos, atuam na informalidade. Independente se atendidos pelos aplicativos ou não, esse tipo de transporte possui forte apelo no público de menor poder aquisitivo. A conclusão foi apresentada pela gigante 99. Segundo o relatório das atividades da empresa "66% das corridas sobre duas rodas são feitas fora das regiões mais ricas", reforçando a vocação para atender às pessoas desassistidas por outros modais.
Disputa Uber X 99
A pioneira em incorporar o modelo duas rodas foi a Uber. Seu serviço foi implantado no Brasil em novembro de 2020. Segundo nota da empresa, a opção por essa nova modalidade foi baseada numa percepção de que esse meio de transporte faz parte da cultura do brasileiro, sendo amplamente utilizado no país. Mais nova, a 99 completou dois anos atuando também neste formato.
Apesar de retardatária no segmento, garante possuir a liderança nacional no transporte por motocicletas. Atualmente oferece o serviço em mais de 3.300 municípios. O número de corridas diárias nesta categoria mais que dobrou no último ano. Uma pesquisa encomendada a Ipsos pela 99 Moto revela que trata-se da marca utilizada com mais frequência por 40% dos entrevistados.

“Nossa liderança no transporte sobre duas rodas reflete o profundo entendimento das necessidades dos brasileiros. Estamos orgulhosos em oferecer um serviço que não apenas facilita o dia a dia dos passageiros, mas também promove a inclusão, atendendo a uma diversidade de pessoas e as conectando a seus destinos. Nossa missão vai além de prover agilidade e eficiência; é sobre criar oportunidades de acesso e mobilidade para todos, independentemente de onde vivam ou para onde vão.”, afirma Luis Gamper, Diretor de Duas Rodas na 99.
Corridas em duas rodas
Dados computados apontam que as corridas de motos feitas pela 99 percorrem, em média, uma distância de 6 quilômetros e têm duração média de 11 minutos. Segundo levantamento do Instituto DataFolha, 59% das solicitações de motos são feitas por mulheres e 66% dos passageiros contactam o serviço para ir e vir do trabalho.
“Conseguimos visualizar picos de uso de 99Moto nos horários relacionados ao início e ao fim da jornada de trabalho dos brasileiros. Isso demonstra que há interesse da população por uma maneira de locomoção mais ágil, flexível e com bom custo-benefício”, destaca Gamper.
Moto: nem sempre mais Barata
A Uber estima que o serviço executado por motoqueiros seja 25% mais barato em comparação com a sua modalidade mais simples de carro. Já a concorrente garante que as suas tarifas neste segmento, em média são 30% menores. No entanto, nem sempre essa vantagem no preço é verificada na prática. A distorção acontece principalmente nos grandes e movimentados centros.
Embora os serviços tenham se popularizado como alternativa de locomoção mais barata, cada vez mais estão ganhando protagonismo entre os passageiros pela sua agilidade e maior facilidade em burlar os congestionamentos, principalmente nas faixas de pico. E como o algoritmo funciona baseado na demanda de oferta e procura, faz com que os horários mais concorridos e com maior lentidão, como o de rush, cheguem a empatar os preços ou ficarem até mais caros do que as viagens de carro.
Insegurança
É justamente este quesito que abriga o principal entrave para o desembarque das motos dos aplicativos na capital paulista. O prefeito acredita que devido a intensidade, peculiaridades e a já sentida violência no trânsito daquela cidade sejam ainda mais impactados com a implantação desses novos serviços.  O temor é que possa aumentar de forma exponencial os números de acidentes tanto de condutores como de passageiros e, consequentemente colapsar o sistema de saúde.
Há mais de um ano quando a maior cidade do país barrou os serviços doa aplicativos sobre duas rodas, foram barrados nas ruas da maior cidade do país, a quantidade de motociclistas atendidos somente no Hospitais das Clínicas tinha atingido ao topo de 80% do total de pacientes por traumas. No ano de 2021 foram 363 mortes desse tipo de condutor, representando quase um óbito diário. 
A empresa 99 garante que 99% das suas corridas realizadas onde atua com essa modalidade são finalizadas sem nenhum tipo de problema. Apesar de afirmar que seus serviços são 14 vezes mais seguros do que os deslocamentos de moto fora do aplicativo, essa tipo de deslocamento é, de forma geral, mais arriscado do que os percursos feitos por carros. 
É nítido o esforço verificado nos últimos anos em melhorar a estabilidade do tráfego sobre duas rodas através de campanhas de conscientização e implantação de normas, leis e multas mais pesadas. Uma dessas providências, com forte impacto positivo, foi a obrigatoriedade do uso do capacete tanto para o condutor como para o carona. Mesmo assim, as estatísticas ainda apontam mais riscos do que os carros. Antes mesmo do aumento significativo da frota de motos, a Secretaria de Saúde de São Paulo alertava que 86% das internações por problemas com o trânsito em 2018, envolveram motocicletas.
A sondagem nacional, feita no ano seguinte, apontou índice de 40% das ocupações de leitos nas unidades públicas de atendimento estavam relacionados às motos. Já as mortes, saltaram de 13,5% em 2000 para 41,7% em 2019.
Não apenas a menor segurança faz com que parte dos cadastrados rejeitem essa modalidade mantendo-se fieis aos carros. Exposições à chuva, ao vento e ao sol também influenciam como desestimulantes para essa parcela de usuários. 

Moto mais Poluente
A poluição social mostra-se sempre mais intensa nas áreas carentes. Geralmente é onde a fiscalização é mais frouxa, assim como registradas maior ausência e precariedade dos serviços públicos. Nesse vácuo, proliferam as explorações de Moto Taxi pelo tráfico ou por grupos milicianos.
Além disso, as áreas mais pobres e distantes são as que abrigam a frota de motocicleta mais envelhecida que, segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente podem poluir até sete vezes mais do que um carro e três a mais do que um ônibus.
Em contraponto, nos centros mais desenvolvidos, pode-se sentir os efeitos positivos do Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares (Promot) graças a um forte esforço junto aos fabricantes para implantação de medidas catalizadoras que resultem na redução das emissões de gases poluentes pelos motores de motocicletas mais modernos.
Transporte de um por vez
Em termos de capacidade transportada, os modais explorados por moto são considerados mais impactantes ao meio ambiente por apresentarem grande desvantagem numérica no atendimento em comparação aos  concorrentes. Enquanto uma moto leva apenas um passageiro por vez, um carro pode abrigar até quatro, uma van em torno de dez e um ônibus, mais de 50 pessoas, diluindo assim, em efeito escala, a pegada ambiental.
Crescimento da Frota
Entre 2010 e 2020 foi registrado um aumento de 91,8% na produção pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares. Nos últimos anos esse crescimento progressivo foi impulsionado pela pandemia da Covid-19 que fez explodir a necessidade da circulação desse tipo de veículo para atender a demanda por serviços de delivery. As masters abocanharam ainda outro segmento em expansão, atuando no transporte de mercadorias e documentos.
Embora não tenham recortes que apontem o impacto exato, o mercado atribui parte desse aumento na fabricação a demanda para suprir a busca pela compra de motos por condutores que estão querem ingressar como "parceiro" das divisões de duas rodas da Uber e da 99.
O balanço referente a 2023 da Abraciclo contabilizou mais de 33 milhões de unidades feitas no Brasil. Em fevereiro recente foi quebrado o recorde dos últimos 10 anos com aumento de 14,8%. Embora com apenas 29 dias e os feriados de carnaval, a indústria despejou neste período 139,8 mil novas unidades no mercado.
Já se somarmos os dois primeiros meses desse ano, saíram das linhas de montagem mais de 281 mil novas motocicletas. As vendas ao consumidor final superaram 32,4%. A projeção é não parar de crescer. Segundo estimativa a associação serão fabricadas 1,69 milhão motocicletas até o final de 2024, registrando uma alta de 7,4% em relação ao ano passado.