ONGs denunciam maus tratos de animais na indústria de alimentosfoto de divulgação

Aumento da conscientização, maior mobilização proporcionada pela atuação das mídias sociais, existência de novas tecnologias, métodos menos sofridos e crescimento de pessoas aderindo a dietas veganas. Essas ações combinadas estão influenciado a produção e o comércio de alimentos no mundo.
O Brasil, sendo um dos maiores fornecedores para o mundo sofre uma série de pressões que influenciam diretamente os rumos do agronegócio nacional. Atualmente duas campanhas estão mobilizando parlamentares e parte da população.
Sacrifícios de Pintinhos
Após denúncias, foi protocolado o Projeto de Lei que proíbe o sacrifício de pintinhos machos na indústria de ovos. A proposta foi elaborada conjuntamente pela Animal Equality, Fórum Animal, Mercy for Animals e Sinergia Animal.
A alternativa oferecida pelas entidades de defesa é a implantação do processo conhecido como “sexagem do ovo”, que permite a identificação dos embriões antes de enclodirem. Assim, evita o nascimento dos indivíduos masculinos, poupando a vida de cerca de 84 milhões dessas aves por ano, que acabam trituradas  vivas logo após virem ao mundo. Os machos são considerados inúteis para as indústrias de ovos e carne que mantém o processo produtivo baseado nos indivíduos do sexo feminino.

"Existe a prática de trituração de pintinhos na indústria de criação de galinhas. Apresentamos o projeto para acabar com essa prática apresentando alternativas modernas para a indústria. Defendemos essa e outras iniciativas que visam garantir bem estar dos animais”, justifica a deputada federal Luciene Cavalcante, autora do projeto de lei.

No parlamento paulista já tramita projeto regional semelhante apresentado pelo Carlos Giannazi (PSOL). A iniciativa das organizações de defesa na busca pela implantação de soluções menos traumáticas já conta com 185 mil assinaturas na petição! 
Sensibilização
Essas entidades tentam guiar o Brasil rumo ao exemplo implantado na Itália. Após uma intensa campanha, o Congresso daquele país conseguiu proibir o descarte em vida, considerado um marco significativo na luta pelos direitos dos animais.

"O Brasil tem condições de ser o primeiro país da América a banir a trituração de pintinhos machos. Para isso é fundamental o empenho do legislativo e do Executivo, pois é inaceitável que animais sejam descartados como lixo", afirmou Carla Lettieri, diretora executiva da Animal Equality.
Enquanto não vira lei, essas organizações de defesa tentam reduzir a tritura desses animais através da conscientização das empresas. Até o momento, quatro indústrias já se comprometeram, sendo eles: Korin, Planalto Ovos, Rair e Grupo Mantiqueira, o maior de ovos da América do Sul. Juntos, esses produtores que aderiram vão impedir que 8 milhões de recém-nascidos deixem de ser triturados. Apesar desses avanços, é crucial ressaltar que apenas compromissos empresariais não são suficientes para proteger efetivamente os animais.
Exportação para o Abate
Animais vendidos para o abate em outras nações também estão na mira das entidades de defesa. A campanha foi lançada em 18 cidades brasileiras denunciando as crueldades e irregularidades envolvidas no mercado de exportação em vida. De acordo com  as denúncias, os maus-tratos são comumente observados nos processos de transporte e sem o controle dos órgãos de saúde do Brasil. 
Os animais são carregados em caminhões por longas distâncias, viajando amontoados, em pé por horas a fio. Existem relatos de deslocamentos terrestres que duram mais de 14 horas saindo de vários pontos do Brasil até os portos, onde continuam a sofrida jornada em direção ao abate no exterior. 
Traumatizados e apavorados, muitos deles não conseguem andar, chegando a levar choques de varetas elétricas ou pontiagudas durante as etapas de logística, em que milhares são expostos ao estresse, medo, contração de doenças, quedas e mortes, ocorrências que se prolongam por várias semanas.
Luísa Mel
Sem espaço mínimo para locomoção e com o balanço do mar, os embarcados acabam caindo em meio a um mar de fezes, urina e vômitos -relatam as ONGs. Nesse processo, muitos sofrem fraturas e não conseguem mais se levantar ou mesmo se alimentar. Boa parte fica severamente comprometida ou morre. Segundo as denúncias, muitas vezes jogados ao mar. Os animais que sobrevivem a tudo isso, são levados até os abatedouros onde são mortos sem acompanhamento das autoridades brasileiras ou exigência de práticas menos sofridas. 
A campanha conta com a adesão de 60 entidades e apoio da militante em defesa do bem estar animal, Luisa Mell, que atua como co-autora da petição que já conta com mais de meio milhão de assinaturas pelo banimento dessa prática controversa. Ao redor do mundo, a mudança já começou. Proibições e restrições já foram anunciadas na Ásia, na Oceania e na Europa. O Brasil não pode ficar para trás”, afirmam as ONGs na petição pública. 

Agressão ao Meio Ambiente
Além de todo sofrimento, segundo a entidade, esse modelo de operação se dá em péssimas condições para o meio ambiente em função do despejo de dejetos dos animais em rodovias e vias públicas e, também, pelo odor de fezes e urina que se espalha pelos bairros, provocando desconforto à população. 
A segunda etapa da jornada de longe representa um alívio para esses bichos. Segundo a ONG, geralmente são usadas embarcações em péssimas condições, muitas já descartadas de outras atividades marítimas por serem consideradas sucatas.
“Além de causar intenso sofrimento aos animais, o transporte marítimo de carga viva também impacta o meio ambiente e as cidades portuárias, como foi o caso da embarcação com 27.000 bois retida no Porto de Santos, em 2018 — que resultou em uma multa de R$2,5 milhões por poluição atmosférica, contaminação da rede de drenagem e maus-tratos”, lembra Cristina Diniz, diretora da ONG Sinergia Animal no Brasil
Fora que, se confirmado o descarte ao mar, ainda pode provocar um desequilíbrio ambiental aumentando a proliferação de tubarões no perímetro da rota atraídos pelas carcaças descartadas.