Corpo de César de Souza Gomes, de 44 anos, foi sepultado no Cemitério do Caju, nesta quinta-feira (2)Maria Eduarda Volta/Agência O Dia

Rio- Foi enterrado na tarde desta quinta-feira (2), no Cemitério do Caju, na Zona Portuária, César de Souza Gomes, de 44 anos, que morreu após ser atropelado por um ônibus na Rua São Francisco Xavier, Zona Norte, na quarta-feira (1º). Com camisetas que estampavam o rosto de César, a família lamentou a morte trágica e disse que não recebeu apoio da empresa Rodoviária Âncora Matias.
Ao DIA, o pai, que também se chama César Gomes, de 67 anos, disse que esteve com o filho horas antes da tragédia. "Falar do meu filho é falar tudo para mim. Igual a ele não tem não, ele foi tudo na minha vida. Nós tomamos café juntos nesse dia de manhã, ele pagou meu pão, me despedi dele e depois soube o que aconteceu", lamentou ele. O pai e um dos irmãos da vítima, Alex de Souza Gomes, afirmam que a empresa de ônibus não procurou por eles para dar suporte.
"Perante as imagens, os empresários deveriam rever seus motoristas, fazer exame toxicológico, exame de vista, para termos motoristas qualificados nas ruas. A empresa até agora não nos procurou", disse César. Alex confirmou que nenhum contato foi feito até então. "Contávamos com o apoio da empresa e do próprio Rio Ônibus, mas ninguém veio nos dar uma palavra de conforto, não entraram em contato com a gente, não fizeram questão nenhuma. Fica nessa irresponsabilidade. Meu irmão não merecia ter morrido do jeito que foi. Um 'moleque' honesto, bom, cheio de conhecimento", disse.
De acordo com familiares, César estava trabalhando em uma oficina e foi arrastado pelo ônibus no momento em que fazia um reparo na própria moto. Uma câmera de segurança flagrou momento em que o homem foi atropelado. A vítima estava abaixada mexendo na moto quando o ônibus passou por cima dos veículos que estavam parados. César foi arrastado por cerca de 30 metros.
César era ritmista de bateria da Mangueira. Com um surdo, instrumento que ele tocava pela escola de samba, Rodrigo Explosão, mestre de bateria da Mangueira, o homenageou durante o sepultamento. "Foi uma notícia muito triste, ele sempre foi muito querido, muito família, coração puro. Não podemos julgar o destino de Deus, mas essa tragédia é muito pesada pra gente, a forma que foi, pelo cara que ele era. Uma perda não só como ritmista, mas é uma família, porque a Mangueira é uma família. Uma perda tremenda pra gente."
Alan Antunes da Silva. que também ficou ferido no acidente, esteve no sepultamento, mas preferiu não falar com a imprensa.
Veja o momento do acidente:
O condutor do ônibus foi conduzido para a 25ª DP (Engenho Novo), para prestar esclarecimentos sobre as possíveis causas do acidente. Questionada, a Polícia Civil informou que colheu o depoimento do homem e ouvirá testemunhas em busca de esclarecer os fatos.
O que diz o motorista
Em entrevista ao DIA, o delegado Geovan Omena, plantonista da 25ª DP (Engenho Novo) e que colheu o depoimento, disse que o motorista teve um mal súbito e que só despertou quando o acidente já tinha acontecido. Omena explicou que analisará as imagens de câmeras de dentro do ônibus para confirmar a versão que o condutor apresentou.
"Uma delas fica direcionada para o motorista. Se em um determinado momento, ele dá um apagão, desfalece e ocorre o acidente, vai ficar comprovado que o que ele alegou aqui na delegacia é verdade. Agora por outro lado, se a imagem não demonstrar isso, é só uma tese de defesa que vai cair por terra no momento em que nós tivermos de posse das imagens", disse.

O motorista, que não teve a identidade revelada, trabalha há 30 anos na empresa. Segundo o delegado, não foi realizado o auto de prisão em flagrante porque ele permaneceu no local e prestou socorro às vítimas.
Procurada, a Rio Ônibus disse que "lamenta profundamente o ocorrido" e que aguarda resultado de perícia técnica para entender a dinâmica do acidente. A reportagem tenta contato com a Rodoviária Âncora Matias. O espaço segue aberto para manifestação.