Rafael e Roberta Mendonça estavam juntos há quase 25 anosArquivo Pessoal

Rio - A família de Roberta da Silva Mendonça, de 42 anos, denunciou a falta de preparo e estrutura depois que a mulher passou por uma lipoaspiração no Hospital Rio Day, na Tijuca, na Zona Norte, e morreu no último sábado (27). Segundo os familiares, o procedimento estético foi realizado pela médica Anike Brilhante, que responde a dois processos por danos morais na área cível por erros em cirurgias. 
Em conversa com O DIA, Rafael Mendonça, marido de Roberta, relatou que o procedimento durou em torno de nove horas. Por volta das 4h de sábado, a vítima sentiu um vazamento e chamou a enfermeira, mas nada foi feito. Já às 6h, a profissional retornou para dar um remédio à paciente, mas Roberta não acordou.
"Logo depois da cirurgia, eu já estava do lado dela e a gente ficou na sala até 6h, quando ela fechou os olhos e não acordou mais. O tratamento foi demorado, as pessoas que estavam lá não sabiam fazer, as ambulâncias foram chamadas tardiamente. Às 4h, ela reclamou com a enfermeira que estava sentindo vazar um negócio. A enfermeira virou ela e ainda me chamou para ver junto. Eu disse que não era a melhor pessoa para olhar. Então, entraram em outro assunto, ela começou a falar de remédio e depois foi embora. Às 6h, ela voltou para dar o remédio e minha mulher fechou os olhos", disse.
De acordo com Rafael, o primeiro chamado da ambulância não informou que a vítima estava desacordada e em pós-operatório, então o médico disse que não teria como conduzi-la a outro hospital. Além disso, o plantonista da unidade teve dificuldade de entubar Roberta, o que só aconteceu na chegada da segunda ambulância, às 8h40.
"A primeira foi mal informada, só disseram que era uma pessoa passando mal e mais nada. Então vieram com uma ambulância despreparada. O médico que veio na ambulância não fez nada porque disse que não recebeu a informação de que era uma pessoa após operação, que estava desacordada, que não entubaram e nem sedaram ela. Ela ficou sem ar de 6h às 8h40, o primeiro médico colocou uma máscara com uma bombinha que ele ficava apertando, mas ele disse que entubar era muito difícil, que eu devia perguntar ao anestesista", lamentou Rafael.
"O médico da primeira ambulância disse que não ia conduzir, mas não fez nada enquanto o plantonista não sabia fazer as coisas. Ficou só olhando, até mais distante do que eu. Para piorar, disse: 'se ele continuar assim, ela não vai ficar bem, não vai ter resultado'. Em vez de ajudar o outro médico que não sabia, ele ficou parado, olhando. Ele é médico e viu que o outro não sabia", acrescentou.
Rafael ainda tentou contato com Anike, mas ela só compareceu no hospital depois que a segunda ambulância já havia chegado. "Eu liguei 6h20 e a médica não veio. Ela chegou e a segunda ambulância, que chegou 8h40, já estava lá. Eu liguei chorando e ela ficou me perguntando. Eu disse para ela perguntar ao enfermeiro, que ela viesse ao hospital porque minha esposa não estava acordando. Essa médica já responde a outros dois processos. Só não é de morte, mas são operações grande, com pessoas que quase morreram. Não fala comigo, foge de mim, fugiu de andar rápido", afirmou.
Roberta chegou ao Hospital Rio d'Or, na Freguesia, na Zona Oeste, por volta das 10h. Os médicos disseram ao marido que a paciente estava com todos os órgãos comprometidos, sem respirar e com o cérebro inchado. O último laudo aponta que ela chegou morta na unidade. 
Rafael e Roberta estavam juntos há quase 25 anos e têm uma filha de 5 anos com espectro autista. "Ela era minha mulher e minha mãe. Nós estamos juntos desde os 17 anos de idade, temos uma história enorme de vida. Estou no lado dela e ela no meu desde o início de tudo que a gente começou a construir, já namorando. Todos os nossos passos foram juntos, nada foi feito sem o outro", recordou.
Roberta foi sepultada no Cemitério do Pechincha, na segunda-feira (29). Durante a cerimônia, a família protestou e cobrou por justiça.
O caso é investigado pela 19ª DP (Tijuca). Segundo a Polícia Civil, o hospital onde ela passou pela cirurgia foi oficiado em busca de enviar todas as informações médicas relacionadas à paciente. Os policiais também intimaram a médica responsável pela lipoaspiração para prestar esclarecimento a respeito do procedimento adotado em relação à mulher.
Ainda de acordo com a Civil, os agentes pediam apoio ao Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) para apoio à fiscalização na unidade, bem como histórico de possíveis irregularidades. A investigação segue em andamento.
Por meio de nota, o Cremerj informou que tendo tomado conhecimento do caso pela imprensa, vai apurar os fatos
DIA tentou contato com Anike Brilhante e o Hospital Rio Day, mas não obteve resposta. O caso segue aberto para qualquer manifestação.